Doenças do quadril pela evolução dos animais até o homem?
Um estudo holandês encontrou evidências de que a evolução no formato da bacia e dos quadris dos mamíferos até o homem pode explicar a ocorrência do impacto fêmoro-acetabular, o qual é uma das principais causas de dor no quadril em adultos jovens e um dos principais causadores de artrose no quadril. A mudança no formato da pelve feminina, adequando-se a postura ereta e aos cérebros cada vez maiores dos humanos, é um dos motivos para se acreditar na evolução das espécies como explicação para estas alterações ósseas.
Figuras de: Hogervorst T, Bouma HW, de Vos J. Evolution of the hip and pelvis. Acta Orthop Suppl 2009;80:1-39
Existem dois tipos de impacto fêmoro acetabular: cam e pincer. A deformidade tipo cam é caracterizada pelo contorno anormal da transição entre colo e cabeça femoral. A deformidade tipo pincer representa a cobertura excessiva da cabeça femoral pelo acetábulo. Estas deformidades causam conflito entre a cabeça femoral e o acetábulo, lesando o lábrum e a cartilagem do quadril.
A causa destas anormalidades ósseas do quadril não são conhecidas na maioria dos pacientes. Deste modo, os pesquisadores holandeses levantaram a suspeita de que as deformidades ósseas do impacto femoroacetabular seriam explicadas pela evolução no formato dos ossos do quadril desde os primeiros mamíferos, passando pelos chimpanzés e chegando até a espécie humana. A pesquisa baseou-se na análise de ossos de 22 espécies de mamíferos dos Museus de História Natural de Leiden (Holanda) e Paris (França).Animais escaladores como orangotangos e nadadores como a foca têm o colo femoral bem estreito em relação a cabeça femoral, o que permite uma maior mobilidade da articulação do quadril. Já animais corredores como o cavalo e saltadores como os cangurus têm um formato de cabeça femoral muito parecido com a deformidade tipo cam, o que lhes dá um fêmur mais resistente porém com menos mobilidade. Assim, a evolução poderia explicar a deformidade tipo cam como uma adaptação que ocorreu dos macacos grandes que não corriam para a espécie humana que passou a viver em espaços mais abertos que exigem deslocar-se por maiores distâncias.
Figuras de: Hogervorst T, Bouma HW, de Vos J. Evolution of the hip and pelvis. Acta Orthop Suppl 2009;80:1-39.
O tamanho do cérebro aumentou significativamente com a evolução da espécie humana. Dos chimpanzés até a espécie humana moderna, o corpo dobrou de tamanho e o cérebro triplicou. Com a espécie humana procriando filhos com cabeças cada vez maiores, houve um aumento das dimensões do canal da pelve (bacia) para que o nascimento pudesse ocorrer. Os autores do estudo sugerem que este aumento da pelve feminina explica a maior incidência de deformidade tipo pincer em mulheres, desde que o acetábulo feminino ficaria mais profundo que dos homens.
Figuras de: Hogervorst T, Bouma HW, de Vos J. Evolution of the hip and pelvis. Acta Orthop Suppl 2009;80:1-39.
Concluindo, a ciência tem vários exemplos de que entender o passado ajuda-nos a prever o futuro. Talvez este estudo seja mais um exemplo disto.
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